segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Exposição de Esculturas no Arquivo Histórico Municipal de Vila Real de Santo António até 30-11-2010 de José Coelho com o Titulo " Memento Mar Memor"

Vários tempos

O tempo é uma das dimensões destas esculturas em ferro de José Coelho: o tempo que passou, o tempo presente, o tempo futuro que cada uma das peças parece permanentemente confrontar.

Vários tempos, portanto. O tempo quase indefinido, suspenso, que vem de uma relação com o sagrado, de planos simbólicos, dos guerreiros disformes cujo olhares convocam o nosso olhar e se deslocam à medida que nós próprios os olhamos. O tempo mais concreto das oficinas metalúrgicas, das forjas, das serralharias, do mundo industrial. O tempo indistinto de materiais que parecem recolhidos ao acaso e que uma aparente desordem vai juntando, sobrepondo, justapondo.

E o resultado de tudo isto é o sobressalto: a surpresa de acabarmos (cada um de nós) por nos descobrir como participantes deste processo artístico, como se o nosso lugar deixasse de ser espectador e as próprias peças escultóricas fossem, em grande parte, o resultado do modo como o nosso olhar as olha, recentra, desloca.

Neste processo que envolve autor e espectador num mesmo jogo de sucessivas interacções cada uma das esculturas de José Coelho reinventa-se em novos sentidos e abre-se em novas possibilidades de ver e entender o mundo.

José Carlos Barros

Vice-presidente da Câmara Municipal de Vila Real de Santo António


Guerreiros e Paveias na obra de José Coêlho- “Memento Mar Memor”

Qualquer pessoa que visite como turista ou crente o Mosteiro Guadalupe, em Espanha, e consiga subir ao Camarím da igreja sob o comando Franciscano, colocando-se em frente às pinturas da Luca Giordano (escola italiana séc. XVI) tenderá a procurar/perceber com olhar as formas “alongadas” que se espraiam por entre todas as pinturas, colando-as umas às outras. Precisará, no entanto, de enveredar por uma aventura corporal, nomeadamente em ser capaz de reposicionar, constantemente, o seu corpo face ao espaço de forma a seleccionar o mais possível o local exacto, posição e ângulo que possibilitam visualizar/identificar tudo o que ecoa nas próprias pinturas.

Tradicionalmente, a pintura e a escultura privilegiaram o olho, o olho do artista e também do espectador que se uniam num único ponto de fuga da representação e, exemplos como o de Giordano são capazes de traçar linhas de continuidade com propostas como a de José Coelho, onde o olho acaba por se transformar num corpo que, de forma efectiva, age num espaço e dessa acção faz depender a leitura da própria obra.

Nas esculturas que José Coelho nos mostra, numa primeira versão, “chapas moldadas”, recortadas e soldadas (aqui e ali com um leve traço de cor) assumem formas guerreiras, onde o espectador é convidado a “entrar” numa área dimensionada, povoada por esculturas que “parecem” ter um único visitante – em cada um dos lados das esculturas encontram-se pontos de vista únicos que nos relevam figuras humanóides, “gerreiros” que são gerados/reconfigurados por todos os tipos de espectadores que, dobrando o corpo ou espreitando por pequenos orifícios existentes nas esculturas, vão deformando, com o olhar, a distância entre os seus vários elementos formais e consequentemente emitindo novos sentidos. Segundo José Coelho, na génese deste seu trabalho, encontram-se referências a Dionísio, Deus da constelação mitológica grega que afirma o prazer, o informe…,. Esta última referência implica necessariamente o espectador que, desde logo, não procura de forma simples o lugar de quem assiste a um qualquer espectáculo que decorre alheio à sua presença, mas firme em encontrar a posição que lhe dá acesso à descodificação (ao prazer) da anamorfose presente nos guerreiros dionisíacos de José Coelho

Pedro Cabral

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Uma Escultura para a sua santidade o papa Bento XVI na sua Visita a Portugal.

CCB Lisboa 12 Maio de 2010-05-06
Material - Ferro policromado e inox
Dimensões - 950x450 mm
 Titulo - Crucificação






























                                 Cavaleiro sem sombra
                                 Hoje é um dia muito bom
                                 para guardar numa caixa de valores
                                 ou num manto vermelho de veludo  
                                 como faz a terra ás cores.
                                 Ajusta-se o corpo ao silêncio
                                 um acontecimento perfeitamente ocasional
                                 Esta a nascer um espírito novo
                                 luminoso como uma estrela boreal
                                 com a estritamente secreta missão
                                 de salvar o tempo que nos resta
                                 presumidamente certo e justo
                                 um momento único espiritual
                                 semente desperta de um sono milenar emergente
                                 como Cristo que morreu a perdoar
                                 Há dias em que basta apenas olhar em frente
                                 Hoje é um dia de pensar e semear.

                                José Coelho  06-05-2010